m o r a d o r e s

(2013)
 
“Há quanto tempo vocês estão aqui? Levantem! Vocês não podem privatizar o espaço público. [...] Ali no cantinho pode.”
(Policial militar durante a ação no dia 1/7/13)
 
m o r a d o r e s é uma interferência urbana desenvolvida a partir de uma imersão no universo do morador de rua. Uma performance com rastros do teatro invisível se confunde com o cotidiano da cidade, e não se revela explicitamente enquanto ação ficcional... Entre transeuntes, prédios, papelões, cobertores, sacos de lixo e as fronteiras da urbes, o grupo de performers se expõe ao risco de testar os mecanismos de vigilância e controle instaurados na arquitetura “antimendigo” dos centros urbanos. Na condição de morte social assumem-se corpos degradados de poeira e miséria...
 
Mereceria outro roedor andante dormir onde ratazanas evacuam sempre?
 
O fluxo da cidade é contínuo e os corpos espalhados, em uma pequena zona, com os olhos fechados, escutam além dos ruídos que passam imperceptíveis em meio ao caos urbano. Quanto tempo é possível permanecer parado sem ser abordado (interroga). O corpo na rua é território (interroga). O corpo deve ser aséptico (interroga). Como a sociedade de consumo se relaciona com o indivíduo improdutivo (interroga).
Durante 5 horas os performers m o r a d o r e s transitam e ocupam as ruas de maneira camuflada, buscando se infiltrar no fluxo urbano e, ocasionalmente, quebram essa condição ao construírem imagens/instalações.
A partir de um recorte no mapa do centro da cidade - previamente estabelecido - inicia-se um jogo de deslocamento e permanência que servirá de campo de acionamento de situações subversivas ao cotidiano uso da cidade. A ação intercala entre dois momentos complementares: a invisibilidade e a exposição. Nos momentos de exposição – como numa galeria de arte – os performers criam instalações corporais, interferindo na arquitetura, formando empilhamentos coletivos, criando imagens simbólicas a partir da pesquisa de cada um sobre o corpo que (de)compõe na dilatação do tempo.
O jogo de deslocamento que se desenvolve, entre a ação invisível e a exposição, produz cenas em que os performers provocam situações que contestam o que é público e o que é privado na cidade. Como por exemplo, ao utilizar o espaço público para desenvolver ações tidas como privadas: habitando vias públicas, praças, jardins e mesmo pontos turísticos - onde a higiene é a regra principal. O espaço dito público, de domínio do coletivo, é coibído pela polícia, que segue a “coreo-política” (LEPECKI) de afastar comportamentos inertes de permanência em locais que devem servir para circulação contínua.



 
Na errância, os moradores de rua domesticam, social e geograficamente, o meio público. (Simone Frangella)

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